terça-feira, 29 de abril de 2014

Zangas

                                                                                                              foto da net


Folhas mortas, folhas secas que o vento arrancou. Soltas, esvoaçam pelo ar ou pousam no chão onde serão pisadas, desfeitas em pó que o vento espalhará.

Há palavras que quando libertadas podem ser usadas em arremessos violentos nas fúrias ventosas dos desencontros da vida ou podem vogar no ar ao sabor arrítmico das brisas quando reina a calmaria no espaço da vivência.

Folhas secas, palavras rudes, ambas são material de combustão fácil, capazes de provocar chama se caírem em sítios pouco cuidados onde as atenções à sua intrínseca manutenção foram esquecidas no vaivém sempre igual das rotinas costumeiras. Aí tombadas, folhas ou palavras, rapidamente se criam condições para que fortes labaredas irrompam num braseiro destruidor.

Palavras duras como pedras, afiadas como setas, doridas e sofredoras atiradas como dardos certeiros ao alvo escolhido, ouvidas ao acaso, entre bicas e pastéis de nata, no burburinho dum café, pouso de gente de longe, onde as folhas não entraram mas os verbos soaram no presente, esquecido que estava o passado sem futuro desejado pelos intervenientes da peleja.
 
texto de Benó


4 comentários:

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Um burburinho inusitado de palavras, causando encontros e desencontros, em meio ao vento...Gostei!
Um abraço

Justine disse...

Muito interessante, a tua reflexão. Tanta coisa que se aprende, sentada a uma mesa de café...

Graça Pires disse...

Folhas mortas e secas e palavras duas como pedras... Um texto magoado, minha amiga Benó e cheio de palavras sobressaltadas onde se esconde o silêncio...
Um beijo.

Beatriz Bragança disse...

Querida Benó
Palavras ou folhas,pouco importa! O que importa é o alcance de ambas!
E a forma como define essa importância é magistral!
Às vezes, porém, pior do que certas palavras,é a indiferença!!!
Parabéns pelo texto.
Um beijinho
Beatriz