quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Sem Espera.




                                                                                                               Di Cavalcanti


Numa correria desenfreada vão-se os dias, as horas. Passa a infância, deixámos de brincar   e dum momento para o outro cortámos as tranças, ultrapassámos todas as dificuldades da adolescência  e somos gente adulta.
É tudo a correr e o relógio sempre a girar não nos dá descanso nem para apreciarmos os bons momentos de convivência com os amigos, o prazer de ler e degustar as letras que formam palavras dos livros que enchem prateleiras e que esperam sossegadamente a hora de os pegarmos e mergulharmos fundo no desconhecido das suas histórias. Nem nos apercebemos que o tempo passa por nós numa corrida louca sem regresso, para levar, muitas vezes, os sonhos e a esperança deixando-nos de mãos vazias num tempo já sem tempo para as encher.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A Arte de Saber Viver



O saber viver é uma arte que nem todos dominam neste universo onde coabitamos e onde é cada vez mais difícil as relações entre os humanos.

Assim como a arte de jogar futebol, de navegar, as artes marciais, a tão importante arte de saber conversar, cada dia mais difícil dado o mutismo em que os jovens caem com o uso do "chat" nas redes sociais, esta também tem de se aprender.

 A arte de saber sorrir, de saber ler, de saber estar à mesa, de respeitar o próximo são ensinamentos que devem ser diários e constantes junto dos jovens de hoje para que os homens de amanhã saibam usar a inteligência aliada à delicadeza e à humildade.

Tudo isto e muito mais é útil e necessário para se aprender também, a mais difícil de todas: a arte de SER FELIZ.

São artes de aprendizagem demoradas que requerem paciência e perseverança de quem ensina e tem a seu cargo  a formação de rapazes e raparigas, abrolhos que serão flores neste jardim da vida onde as ervas daninhas, parasitas e espinhos proliferam em demasia.
 
 
texto de Benó
foto da net

 

 



domingo, 11 de outubro de 2015

Fome





Vieram de longe ou de perto. Tanto faz!

Trazem a fome no bico, podia ser na boca, tanto faz.
São aves, podiam ser pessoas.

No cais, comem os sobejos das refeições dos pescadores. Aqui lutam pelas migalhas que deposito sobre a relva, zangam-se pelos restos de pão que algumas conseguem roubar para, em seguida, num voo rápido o perderem.
 
                                 
São aves mas podiam não ser. Tanto faz.
Abrem e batem as asas e grasnam num som agudo feroz de bico aberto. Fazem pequenas investidas a uma ou outra mais afoita quando se atreve a meter um nico de alimento para o papo. Podia ser a barriga. Tanto faz.

É a fome adulta que as torna violentas. Que sabemos nós, se os filhos no ninho não esperam pelo alimento tão disputado?
Fome dos filhos mais sentida, origem de disputas e escaramuças, guerras, mortandade.

Nem só as aves têm fome.


fotos e texto de Benó
 

domingo, 4 de outubro de 2015

Uma tarde


 

O vento a acariciar as águas calmas do porto de abrigo provoca-lhe arrepios indisfarçáveis. Os barcos mesmo ancorados tremem e agitam-se na tarde serena de outubro. Ao longe, no fim do paredão, o pequeno farol ficará acordado toda a noite na sua função de avisar quem entra e quem sai.
Junto a si, nas pedras submersas onde se apoia, fervilha vida, noite e dia. Sempre.

Os jovens namorados procuram a protecção da sua sombra para se acariciarem na provocação de arrepios e ternuras pela primeira vez sentidas.
Sempre igual e sempre diferente esta água que se agita, treme, nos refresca, nos dá o alimenta mas, também, é madrasta e nos engole.

A deambular pelo cais nas horas quietas duma tarde outonal.
 
foto e texto de Benó